Prefeitura do Amapá apaga vídeo deepfake com Virginia Fonseca e Vini Jr. após onda de críticas

Uma estratégia de comunicação ousada virou alvo de críticas intensas nas redes sociais. A prefeitura de uma cidade do Amapá publicou um vídeo inusitado criado por inteligência artificial, simulando a influenciadora Virginia Fonseca e o jogador Vini Jr. para anunciar o pagamento de salários de servidores municipais. O gesto, inicialmente pensado para ser bem-humorado, acabou gerando forte repercussão negativa, levando a gestão a apagar o conteúdo em meio à polêmica.

No vídeo, essa versão digital de Virginia e Vini Jr. aparece em tom afetuoso e celebratório. À trilha sonora, uma música do cantor Zé Felipe — ex-marido de Virginia — reforça a mensagem de “amor no ar … e na conta”, remetendo à letra da legenda que acompanha a postagem. Com isso, a prefeitura buscava transmitir leveza e proximidade para comunicar que os salários estavam depositados. Até aí, uma ideia criativa — mas que rapidamente se chocou com os dilemas éticos da inteligência artificial.

Logo após a publicação, a reação do público nas redes foi intensa. Muitos internautas criticaram o uso da imagem de figuras públicas famosas para fins governamentais, considerando que a simulação ultrapassava os limites do aceitável. Outros ainda questionaram a trilha sonora usada, dado o histórico pessoal entre Virginia e o cantor, e apontaram que a peça soava como uma forma de propaganda manipuladora, quase uma mistura de marketing emocional com deepfake.

A discussão se aprofundou em temas centrais da era digital: até onde vai o uso de IA em campanhas oficiais? Quais são os limites morais e legais de se usar rostos gerados digitalmente para veicular mensagens governamentais? Especialistas em ética da tecnologia observam que a facilidade cada vez maior de criar conteúdos sintéticos potencia riscos de desinformação, manipulação e violação de imagem, especialmente quando instituições públicas estão envolvidas. Para muitos críticos, a prefeitura cruzou uma linha ao transformar pessoas conhecidas em personagens em uma peça institucional.

Pressionada pelo intenso debate nas redes sociais, a administração municipal decidiu remover o vídeo de seus perfis oficiais. A retirada sinaliza uma preocupação com a imagem pública, mas não apaga a reflexão deixada pelo episódio. Afinal, a ação evidencia o paradoxo de uma tecnologia poderosa: usada com leveza, ela pode entreter; usada sem cuidado, pode gerar controvérsias profundas.

O caso do Amapá chama atenção para a necessidade de regulação mais clara e de diretrizes éticas sobre o uso da inteligência artificial por governos. Em um momento em que a popularização dessas ferramentas tende a se acelerar, o episódio serve como alerta: a criatividade comunicacional não pode se sobrepor à responsabilidade institucional. A polêmica comprova que, em regimes democráticos, a tecnologia não está dissociada da esfera pública — e que gratuitos “vídeos fofos” podem ter um custo político e de reputação elevado quando ultrapassam os limites da percepção social.

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